O espião Inglês

Filme é eficiente, mas não tem fôlego suficiente para se sustentar apesar da brilhante performance de Benedict Cumberbatch.

Por POR FLÁVIA LEÃO

Dominic Cooke é um diretor de carreira curta que conseguiu um astro de nome pesado para estrelar O espião inglês (The courier), seu filme mais recente. Nele, Benedict Cumberbatch retorna à época da Guerra Fria – como já fez antes em O espião que sabia demais (Tinker tailor toldier spy, 2011) e O Jogo da Imitação (The imitation game, 2014) – para viver a história real de Greville Wynne, um comerciante que se viu recrutado pela inteligência britânica para espionar a antiga URSS.

Este é o segundo longa de destaque de Cumberbatch no ano, sendo o outro Ataque dos cães que estreou recentemente na Netflix. Uma provável indicação para o Oscar, portanto, é quase certa e sem dúvida, caso aconteça, será muito merecida. A performance do ator é impecável, para dizer o mínimo, e retrata toda o seu interessa e entrega ao personagem da vida real que virou um herói internacional.

O contexto da história, como já referido, se passa na década de 1960, e muito embora aborde um período tenso como a Guerra Fria e um iminente confronto nuclear, Cooke prefere focar sua história muito mais na relação de Greville e Oleg Penkovsky (Merab Ninidze), um coronel da inteligência soviética que acabou se tornando seu amigo, do que no próprio protagonista em si. Em razão disso, por não se abrir para outros temas em seu longo tempo de duração (118 min), em vários momentos O espião inglês se torna um pouco enfadonho, salvo apenas pelas brilhantes atuações não só do personagem principal, mas também pela de Ninidze e especialmente a de Rachel Brosnahan, que interpreta a agente da CIA Emily Donovan – personagem fictícia – e que, com certeza, merece todo o reconhecimento.

De outra forma, e não menos importante, o filme é elegância pura, desde o figurino da década que retrata, passando pelos enquadramentos da câmera, até a fotografia azul-acinzentada que lhe caracteriza, numa vibe bem inglesa, para ser mais exata! No entanto, o roteiro não é de forma nenhuma brilhante – filmes biográficos bem mais satisfatórios como Sniper americano (American sniper, 2014) já foram feitos anteriormente -, mas cumpre muito bem seu papel de mostrar esse período marcante da vida de Wynne e especialmente, em sua dinâmica interpessoal com Penkovsky, tão intensa que deixa de lado até mesmo aquela com sua mulher e filho. Na verdade, a amizade dos dois funciona como o antolhos do filme, e ele não consegue “olhar” para nada mais.

Sendo assim, O espião inglês tem sim força para tentar algo na temporada de premiações. No entanto, acredito que poderia ter sido mais eficiente caso a espionagem que lhe serve de pano de fundo tivesse sido abordada de uma forma mais dinâmica, ganhando um fôlego maior em pelo menos algum momento…

Fonte: https://domtotal.com